O conforto é um dos mais importantes atributos da vida. O ser humano está permanentemente, consciente ou inconscientemente, procurando manter ou melhorar seu estado de conforto, físico ou psicológico, na escolha do curso de suas ações.
Uma expressão geralmente aceita define conforto como sendo um estado de harmonia física e mental com o meio ambiente, baseado na ausência de qualquer sensação de incômodo.
Segundo Soutinho (2006), o conforto total do vestuário pode ser dividido em quatro aspectos fundamentais:
* O conforto termofisiológico (térmico) apresenta historicamente a razão mais importante para a existência do vestuário, o que deve proteger as pessoas contra o frio e o calor e simultaneamente tem que permitir a transferência da umidade através das suas camadas.
* O conforto psicológico é alcançado através da combinação de fatores como: facilidade de manutenção, durabilidade, estética, moda, meio social e cultural, ou seja, está relacionado predominantemente com as tendências da moda seguidas pela sociedade.
* O conforto físico (sensorial) é causado por contato mecânico e térmico entre o tecido e a pele, ou seja, está relacionado com as sensações provocadas pelo contato do tecido com a pele. O contato pode ser estático ou dinâmico (durante o movimento).
* O conforto ergonômico está ligado à forma do vestuário. Os fatores que mais influência tem sobre este tipo de conforto são os cortes, costuras, forma de modelagem e tabelas antropométricas. Fatores associados à capacidade de realização de movimentos corporais relacionados com o tipo e estrutura dos materiais utilizados são também importantes.
As características de conforto que um consumidor procura em uma peça de vestuário podem ser vistas como as suas especificações funcionais e estéticas. As especificações estéticas são as que irão dar ao consumidor conforto psicológico e as especificações funcionais são aquelas que lhe irão dar conforto fisiológico e sensorial (Broega & Silva, 2008).
Conforto e Ergonomia
Gonçalves (2007) afirma que o suporte do produto de moda-vestuário é o corpo humano, que se trata fisicamente de uma estrutura tridimensional articulada em constante movimento, capaz de reagir diferentemente entre os semelhantes expostos aos mesmos estímulos no ambiente onde convivem.
O projeto do vestuário tem suas especificidades relacionadas à estética, porém, um dos objetivos deve ser também o conforto corporal. Em cada etapa de sua elaboração deve-se ter sempre a visão de todo o processo, levando-se em conta a complexidade de sua função, que tem como finalidade vestir um corpo. Para atingir estes objetivos, a utilização dos fatores ergonômicos vai além de uma investigação para a melhoria e organização do trabalho, deve reunir elementos e procedimentos, para adequar melhor os produtos ao gosto e à forma anatômica das pessoas (Silveira, 2008).
A vestimenta deve ser projetada em função das formas do corpo e seus movimentos. A localização das articulações e seus diferentes ângulos de abertura e direcionamento exigem pensar a morfologia do vestuário segundo as atividades do usuário. Neste sentido, as articulações possuem limites formais que é preciso considerar para evitar tensões e o impedimento quanto ao desenvolvimento natural do corpo (Saltzman, 2004).
Através das ferramentas da ergonomia aplicadas na etapa da modelagem do vestuário, na adequação da matéria-prima ao modelo e no acabamento se torna possível conseguir uma construção muito mais eficaz do ponto de vista do conforto ergonômico. Conhecer a forma e as medidas do corpo é essencial no projeto de produtos do vestuário, sendo direta a relação entre a forma física e as ações e movimentos realizados pro este corpo, remetendo aos conceitos da antropometria.
O vestuário deve interagir com as necessidades fisiológicas e ergonômicas do corpo, favorecendo a interação do corpo com o ambiente, as atividades desempenhadas e as convenções sociais da cultura a que o utilizador pertence. As propriedades ergonômicas dizem respeito à facilidade de adaptação antropométrica, entre elas a facilidade de manuseio, de uso, de conforto, de segurança e de vestibilidade da roupa.
De acordo com a Internacional Standards Association (ISO, 1981; apud MORAES, 2005, p 99) citado por Silveira (2008) usabilidade é definida como:.[...] a efetividade, eficiência e satisfação com as quais usuários específicos atingem metas específicas em ambientes particulares.. Interpretando esta definição, pode-se afirmar que quando o objetivo do projeto é alcançado, obtém-se a efetividade. Dizendo de outra forma, a efetividade foi alcançada quando uma peça do vestuário, projetada para fazer exercícios físicos, permite que o indivíduo se movimente e se flexione de maneira natural e segura.
Ainda de acordo com Russo e Moraes (2005) e citado por Silveira (2008), a satisfação se refere ao nível de conforto e de aceitabilidade dos usuários ao usar o produto. A satisfação é um aspecto muito importante da usabilidade do vestuário, pois envolve os sentimentos dos usuários em relação ao produto, situados no nível do conforto e da aceitabilidade. Quando a roupa facilita ao corpo assumir uma posição confortável e agradável, durante os movimentos de sentar, caminhar e movimentar os braços, sem restrição, causa satisfação.
Através da analise dos procedimentos referidos as qualidades técnicas e ergonômicas são obtidas por meio da adequação da matéria prima ao estilo do modelo, da técnica de modelagem aplicada segundo critérios ergonômicos e medidas antropométricas adequadas, dessa forma oferecendo conforto, e proporcionando liberdade de movimentos, posicionamento, deslocamento, bem estar emocional, atingindo os conceitos de usabilidade e de bem-estar em todos os aspectos que envolvem a interação entre o vestuário e seu usuário.
A sensação de conforto sensorial de uma roupa é comunicada por meio do toque do tecido pela pele do usuário do traje, transmitindo as sensações de conforto ou desconforto através do tato como, por exemplo, o desconforto causado por um tecido que pinica ou a agradável sensação de um tecido macio sedoso. Sendo assim, as propriedades de toque são fundamentais tanto na moda, como em outras aplicações têxteis destinadas a interagir com as pessoas, pois auxiliam na percepção e avaliação de um determinado produto têxtil.
De acordo com Mendes et al, (2009) são pontos a serem considerados para uma avaliação sensorial tátil de tecidos destinados ao vestuário:
- Influência do comprimento fibra - um fio feito de fibras longas é menos cabeludo e mais regular do que um fabricado com fibras curtas, podendo ter influência no sentimento de toque;
- Influência da estrutura do fio - proporcionado pelo processo de produção, que ocasionará a produção de fios maior ou menor torção, bem como maior, que pode influenciar nas características de flexibilidade, maciez, resistência, etc.;
- Influência da densidade de fios para tecidos e para malhas - o aumento da densidade de fios na teia ou trama, aliado a espessura do fio caracterizará um tecido em termos de flexibilidade, rigidez e espessura influenciando o toque. O mesmo ocorrendo para as malhas, no que diz respeito às fileiras e colunas, quando ocorre aumento da densidade de fileiras e colunas;
- Influência da torção do fio - para a mesma contagem do material e do fio, a flexibilidade de um fio muda com o processo de produção e com a torção do fio, consequentemente contribuindo para o grau de aspereza e de flexibilidade dos tecidos;
- A influência da tensão dos fios - aumentando a tensão durante o processo de produção da malhas para uma mesma contagem do fio de cursos ou colunas, torna-se perceptível ao utilizador de flexibilidade, rigidez de tecidos e malhas. Referências
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BROEGA, A.C. & Silva, M.E.C., O conforto como ferramenta do design têxtil. 3º Encuentro Latinoamericano de Deseño, Buenos Aires (Argentina), julho 2008.
SOUTINHO, H. F. C., Design funcional de vestuário interior. Braga (Portugal): Escola de Engenharia, Universidade do Minho, 2006. Dissertação de mestrado.
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